Prisão Eden
Noite sombria apenas iluminada por alguns focos dispersos, onde sussurros são ouvidos à distância, onde lágrimas vertem em momentos solitários e particulares, onde as máscaras reinam num bailado de poderes e hierarquias. Quatro torres guardam esse recinto, uma em cada quadrante, onde guardas armados não descansam e não permitem a saída dos exilados da realidade. A voz onipotente ressoa entre os muros visíveis e invisíveis corrompendo corações de lobos famintos, transformando-os em terríveis ovelhas falhas e cegas. Um local onde não se pode comer o fruto proibido porque ele lá não germina, afinal, a terra é infértil para macieiras.
Uma oportunidade de fugir desse local habita nos retidos dessa klipha maldita, inconscientemente criam-se novos deuses e novas formas de enxergar a realidade toda vez que uma das quatro torres está sem vigilância. A voz Onipotente deixa de invadir os planos e vozes do caos triunfam em breves momentos.
Soam-se as trombetas, gritos ecoam no chamamento das hordas de guerra, pois uma força sinistra traspassou os muros de proteção e vidas serão modificadas pela sua energia. Lama, chuva, selvageria, perseguição, enfim, nada impede os passos rápidos rumo aos palácios sombrios.
Longe de tudo e todos, a fugitiva tende um caminho....unir-se! A União nada mais é do que o acúmulo de energias para determinados fins. A prisioneira se torna algoz e o que a fez chorar o faz sorrir.
Se enxergarmos claramente o texto, verificamos a similaridade entre uma cadeia ( presídio) e o suposto Éden. Aquele que se adapta, torna-se um número, mas os sedentos são eternos rebeldes em busca das maneiras de escapar. Viver sobre a imposição é o mesmo que engolir espinhos a seco. Há aqueles que se adaptam, porém, há aqueles que os cospem.
Lilith foi o claro exemplo do inconformismo.
Natureza feminina ou masculina pouco importa no grande contexto, em verdade o espírito sedento é o tema maior de todas as lendas. A palavra “porque” é um dos nomes dessa Deusa.
Lilith nada mais é do que o ar que percorre nosso sangue em busca de respostas. È a revolta que habita ao enxergarmos a imundície da lei karmática.
O Éden é o pasto onde diariamente renascem as ovelhas e as cadeias são o antro onde diariamente se criam monstros. As energias são as mesmas...
“Grandiosa mãe da rebeldia
Rainha que caminha nos lírios e exala o perfume das rosas,
Cujas maiores armas são a sedução e a beleza,
Ouve minhas súplicas e intercede na minha causa.
Direciona teus olhos flamejantes à floresta de espinhos que me cercam,
Incinere-a e levante o pós às estrelas do alto,
Para que a Lua possa ser meu firmamento mais brilhante.
Traga em teu colo quem decidiu sair do meu,
Prenda-o no berço do meu desejo,
Faça-o sorrir diante a minha imagem
E chorar com minha ausência.
Traga-me as chaves que abrem as arcas que abrigam os tesouros da Terra,
E permita-me glorificá-la no púlpito de minha cama.
A árvore seca germinará novamente para adornar teu jardim eterno. Teus filhos assim desejam,
Comungar com tua essência e receber tuas energias.
Que minha boca carregue o néctar preparado por ti
Com poder para selar uma relação.
Derrame o meu em minhas mãos pêra que eu possa saciar meus desejos mais ocultos.
Conceda-me o fogo sexual, para queimar o jardim da minha luxúria.
Serei eterno (a) como Tu és. E agradecerei regogizando meus desejos.
Que assim seja e assim será”.
Uma infinidade de bons textos dissertam acerca de Lilith e a extensão de seus domínios no campo individual e coletivo da humanidade. Reproduzir os bons textos sobre essa grandiosa inteligência é no mínino limitar os poderes de associação e livre pensamento de uma enorme gama de leitores interessados nos mistérios que se escondem por trás dos véus desse nome. Lilith há tempos criou uma nova egrégora energética que cresce, diariamente, alimentada pelos espíritos rebeldes e sedentos de saber, renascidos numa sociedade decadente.
Enxergar Lilith como arquétipo é uma tentativa de moldá-la ao subconsciente humano e justificar ou apenas tê-la como matriz para o desenvolvimento da psique, ou seja, Lilith seria apenas uma fase nominada de determinada situação ao longo das sendas do saber. Mas Lilith é apenas isso? Uma informação codificada primitiva e pré-existente no inconsciente coletivo? Mesmo que evoluída para uma parte separada do sistema psicológico? Ou um dos nomes para os labirintos da alma? Que chaves residem nela?
Respeito todos os pontos de vista, afinal, radicalismo leva à cegueira em todos os sentidos. Mas, acredito que o fato de Lilith habitar o inconsciente coletivo nada mais é do que a extensão dos poderes emitidos de forma contínua e crescente dessa inteligência. O mundo modificou-se radicalmente em amplos sentidos e a mulher reprimida em pouco tempo (digo pouco em relação à idade cronológica da consciência humana) tomou e está tomando a posição merecida junto à sociedade. O culto matriarcal, praticamente dizimado e reprimido por séculos, renasceu com a ascendência feminina. Lilith está à frente dessas modificações! Não se trata de simbolismo nem de figura fantasiosa, ao contrário, sua “pseudo vingança” hoje é evidente em toda crosta.
Historicamente, muitos já tiveram contato com lendas acerca do Éden, Adão, Evah e o fruto proibido. Não é difícil de entender a manipulação de tais lendas em prol de pilar patriarcal. Entramos em discordâncias com isso desde o momento que IEVE citou que o homem era sua semelhança (vide escrituras). Oras, então como foi gerado um homem sem uma mulher? Na extensão, como algum homem é capaz de gerar algo sem sua companheira? Não há como uma criatura pensante crer que existe a possibilidade disso ocorrer de forma natural. No afã de assegurar um DEUS PAI, cria-se a figura de Lilith como espírito rebelde, sexualmente livre, livre de dogmas e vergonhas e “demonizada” por não acatar as ordens angelicais. Lilith foi a serpente que fez Adão pecar, ou seja, fez Adão enxergar que sexo poderia ser a forma com que os humanos estabeleciam pontes com o divino sem se privar de nada, ao contrário, transformando o sexo num ato cerimonial e prazeroso.
Deram a Lilith o título de mãe de todos os súcubos (espíritos femininos que invadem os sonhos masculinos e “poluem” com atos sexuais). Mas, nos primórdios, os principais alvos dessas formas energéticas eram os monges. O que é mais viável: culpar Lilith ou assumir a sexualidade repreendida pelos cultos patriarcais? Obvia a resposta...
O mais interessante é que destas supostas “uniões” recolhiam-se o sêmen e fecundavam-se outras mulheres. Traição era sinônimo de Lilith, ou melhor, o homem desprovido de coragem para enfrentar os erros criou a fantasiosa lenda.
Lilith foi um nome criado a partir do hibridismo entre alguns povos que, nominavam seus medos. O homem tinha medo das tormentas, dos vales sombrios, dos raios, das florestas, dos animais noturnos (como a coruja), enfim, todas essas qualidades foram sintetizadas e atribuídas à Lilith. Sua associação com a noite e com a lua nada mais é do que a própria mente ignorante do homem, que assim a construiu.
Lendas estão disponíveis em livros maravilhosos. Porém, o objetivo deste texto é a expansão do contexto baseando-se numa energia chamada egrégora. O que é uma egrégora? Do grego egregorien, é uma energia condensada criada a partir de uma assembléia, de uma conjunção de pensamentos iguais capazes de gerar uma entidade. Se a idéia dos antigos defensores dos cultos patriarcais era gerar uma demônia capaz de ser a porta para o trevoso e perigoso plano das entidades diabólicas criadas pela depravação e violência sexual de toda espécie e grau, certamente conseguiram implantar isso nos incoscientes. Lilith se tornou uma energia maligna e, consequentemente, uma espécie de “Rainha dos espíritos vagantes”.
Se isso é um fato, até quando essa deusa “depravada, maligna e vingativa” deve habitar entre os seres encarnados ou não? Finalizo esse texto da mesma maneira que iniciei: Lilith há tempos criou uma nova egrégora energética que cresce diariamente alimentada pelos espíritos rebeldes e sedentos de saber, renascidos numa sociedade decadente. Os jovens estudantes de magia (seja qual for a vertente) possuem a capacidade de gerar suas egrégoras e colocar a tão adorada Lilith no trono ao qual deve estar direcionada. De grande deusa, Rainha noturna (de uma noite completamente amada), livre de dogmas e comportamentos repreensivos, senhora da liberdade e amplitude do prazer e alegrias humanas. Essa é a Lilith que todos os seres gostariam de cultuar e possuir a capacidade de invocar.
Lilith
Tu que és a lua negra fabulosa
Tu que és a luxúria formosa
Tu que és o nascimento da lascívia
Tu que transformas meu desejo em chama viva
Tu és quem eu invoco com toda a minha libido
Tu és parte da minha id
E meu desejo reprimido
Tu és a Lilith
A mulher com chamas nos quadris
Dominadora dos viris
Com tuas asas partiste
O ego viril feriste
Aquele preferiu a submissa
Mas não conseguiu saciar-se com a débil e inexpressiva
Trocou-te por temer o teu poder
Eu confesso te querer
Toda vez que olho para a negra lua
Penso na tua carne nua
Pousando com tuas garras no solo
Voando para o meu colo
Venha Lilith! Pois, minha libido por ti clama
Meu desejo reprimido já veio à tona
Venha Lilith! Esta noite sejas minha dona
Venha Lilith! Quero os teus quadris em chama.
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